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Projeto Pifercussão - A percussão da banda de pifanos (aula 01) -Série o nordeste das cabaçais
G r a v a ç õ e s
pesquisas de campo.
João do Pife
Zeca do Pifano
banda de Pífanos Pio X Sumé-PB
Cultura do pife brasileiro uma releitura do tempos dos nossos ancestrais.
A cultura indígena brasileira é bastante variada no seu contexto universal de experiências vividas em localidades rurais do nordeste e norte de minas onde a zabumba o pife e a cultura das novenas e rezadeiras mestão inseridas e representadas pelo povo brasileiro.
Em suia maioria a tradição das rezas e toques de pífano são experimentados pelos brincantes em uma pluralidade de sensações vividas por grupos culturais no nordeste em suas localidades e regionalidades. É fato que na Pós contemporaneidade estamos vivendo o que Canclini, Nestor Garcia escreveu em seu livro sobre o Hibridismo cultural ao qual estamos submetiudos em nossos dias atuais, em homenagens aos antepassados aos entes queridos e tudo aquilo que o Habitus humano tem de mais profunda experiência e memória da tradição cultural Humana.
Na localidade do cariri central brasileira encontramos diversos grupos de cultura popular que estão permutando aprendizados orais e tradicionais no seu fazer cultural, a seguir traço um perfil identitário de alguns grupos de novena e de Pife Perecussão Brasileira que traz na sua gênese a mais ampla e plural tradição da cultura Brasileira perpetuando-a para seus filhos e netos como conta o seguinte comunicação sobre a cultura e da oralidade dos saberes do pífano e percussão Brasileira.
As gravações não relevadas: Um estudo sobre gravações em áudio e vídeo das novenas Brasileiras de 1982 a 2012 sobre a Prática de Banda de Pífanos e das rezas no interior da Paraíba.
Resumo
Este trabalho tem como objetivo analisar os processos culturais que a banda de Pífanos Pio X localizada na área rural da cidade de Sumé PB vem passando em seus mais de cem anos de atividades,com o olhar voltado para o entendimento da atual situação do grupo,que atua tanto em contextos tradicionais como em novas formas de conceber suas práticas.
Nos últimos 30 anos um morador local registrou todos os momentos da novena, o antes durante e depois em olhar sinuoso sobre expressões os envolvimentos culturais bem como outras sutilezas nos olhares e reações que só quem vive em uma realidade pode falar.
O estudo pretende revelar como o grupo manteve-se entre contextos novos e tradicionais de atuação, em detrimento ao ataque massivo do mundo contemporâneo que, como também a resistência da tradição exercida pela sociedade, esses elementos levou a formar a sua atual identidade.
A pesquisa de campo iniciada em junho de 2008, permitiu o acompanhamento das atividades da banda em seus diferentes contextos de atuação, onde participa tanto de novenas nos sítios de sua localidade bem como em palcos de cidades fora de sua localidade, isso em função da adaptação por parte dos integrantes bem como por parte da demanda cultural. A pesquisa voltará a interpretar as vivências culturais tendo como métodos de pesquisa: entrevistas, pesquisa bibliográfica, observação participante e escrita etnográfica afim de colher informações para análise dos dados por meio de análise de conteúdo, análise de discurso, análise de imagens e transcrições musica
Contextualização
A cultura dos Pífanos do Brasil está inserida em vários contextos sociais e culturais da prática no País, onde muitas vezes obedecendo a serviços religiosos ou outro. Assim os Pífanos em Sumé-PB se deu em contexto rural distante 28km da cidade onde a experiência de vida se dá em tempo e compreensão diferente ao que se vive hoje nas grandes cidades. Compreendendo a prática musical como uma experiência humana de escolhas em contexto,visto estudos antropologicos de Baptista Siqueira sobre os Cariris do Nordeste explanando como se vive a população desta região geográfica Brasileira.
Nos diversos olhares em que a área de etnomusicologia se abrange, o estudo de tradição e mudança vem sendo amplamente desenvolvido em processos investigativos de culturas populares e musica de contexto tradicional (de cultura popular), bem como em outras ciências sociais, na etnomusicologia os pesquisadores e estudiosos dos fenômenos culturais estão cada vez mais abarcando a interdisciplinaridade, pois ao observarmos o fenômeno de diversos ângulos podemos dar melhor parecer de sua prática.
Neste sentido, a mudança é processo cultural natural, pois assim como LARAIA (1986 – pag.101). Afirma que:
Cada sistema cultural está sempre em mudança, entender esta dinâmica é importante para atenuar o coque entre as gerações e evitar comportamentos preconceituosos. Da mesma forma que é fundamental para a humanidade a compreensão das diferenças entre povos de culturas diferentes, é necessário saber entender as diferenças que ocorrem dentro do mesmo sistema. Este é o único procedimento que prepara o homem para enfrentar serenamente este constante e admirável mundo novo do porvir.
Através das pesquisas de campo, observei que a banda de pífanos do Pio X, exerce papéis distintos em sua prática, atuando em contextos tradicionais (em novenas) e em novos contextos( em palcos e apresentações fora de sua localidade),isto segundo Zeca (mestre pifeiro) se deu por conta das mudanças do mundo contemporâneo,pois a cultura foi perdendo força frente as demandas impostas pelas mídias bem como sua infiltração na vida social,trazendo por um lado benefícios como a informação e facilitação da vida por outro uma aculturação por parte dos nativos,pois assim como afirma Berger & Luckman (1989 pag)
“As culturas populares se assim podemos classificar, alem de caracterizar e unificar uma sociedade ou grupo são elementos suscetíveis a modificação variações e principalmente a influencia de culturas hegemônicas”, Porém sem se tornar reféns desta.Grifo nosso.
No patamar do ambiente vivido pelos participantes da banda de pífanos bem como da sociedade em torno desta, a cultura está inteiramente intrínseca no dia dia, valores e escolhas feitas pelos seres sociais desta sociedade provém de sua interação com o mundo externo por meio basicamente da TV e da rádio, haja vista o “isolamento” geográfico que os moradores do sitio Pio X vivem. Porém apesar da distancia física e geográfica da cidade, não se configura o isolamento cultural e da interação sobre as novidades, haja vista, por exemplo, que a TV por na casa do mestre Zeca fica ligada quase o dia todo em especial atraídos pelas histórias das novelas e reportagens. Com esta visão do universo vivido pelos participantes do grupo podemos afirmar segundo (Berger & Luckman 1989) que o indivíduo influencia a organização e é influenciado por ela. O relacionamento da cultura com o ambiente e com os indivíduos é sistêmico e funciona em circuito duplo.
Com base nesta afirmação, ao perguntar a Zeca sobre as diferenças entre as duas formações da banda afirma Zeca (mestre pifeiro) que:
(...) foi do jeito que aprendi e do jeito do nois tamo fazendo, ai é como eu disse a você, mudei assim pra misturar que é pa agradar os antigo e os mai novo,que pra ver se num cai no abuso do povo né(...) (primeira visita a campo dia 22.08.2008 fita 4, vídeo 6 ,5min:54 seg.
Neste relato Zeca assim como os demais do grupo novo, afirmam que para se manter em atividade tiveram que colocar musica nova e que o povo gostava, desta maneira, mostra-nos a preocupação do artista com o publico e sua aceitação perante a sua sociedade local e o publico externo. Neste sentido a relação da musica com o contexto e a época cultural que os atores desta prática vivenciam (aram) foi observada na perspectiva de MERRIAM 1964, 209-28)
acerca do uso e funções da musica,que nos ajuda a entender com olhar Êmico do fenômeno, assim podermos traçar um olhar aproximado da relação entre o fazer musical,sociedade e os valores empregados nas funções desempenhadas
Com base nessas premissas as entrevistas foram realizadas de forma livre e estruturadas, a fim de conhecer o pensamento dos membros da banda, intermediários e publico, ou seja, tanto dos participantes das duas formações da banda (Velha e Nova) além da sociedade local e externa, a fim de conhecer o ponto de vista de ambos os envolvidos, e a partir daí traçar o perfil da banda e sua trajetória observando as inovações e permanências no fazer musical.
Foram realizados registros em áudio, vídeo e fotografia na rua e na casa do mestre com objetivo de tanto conhecer as musicas que são tocadas em seus dois contextos de atuação (novenas e festas extraterritoriais) como também observar o desempenho e as escolhas do grupo (em suas duas formações), além de atentar a interação com o publico presente nos dois contextos.
Para documentação das musicas foi adotado o sistema de transcrição ocidental comum, porém foram adotados outros recursos para a codificação dos sons em símbolos a fim de tornar mais fiel e verídico a concepção musical dos membros do grupo em suas duas formações. A abordagem abrange os conceitos idiossincráticos do mestre Zeca do pife (maneira de aprender, ensinar, memorizar compor e tocar) e os elementos estruturais da prática dos demais membros, isto se dá pelo fato do poder exercido pelo mestre perante os demais do grupo, haja vista que o pifeiro é o membro mais importante verificado pelos próprios membros, podemos observar isso neste trecho do caderno de anotações de campo.
Dia 24.06.2009 Manhã do dia seguinte após a novena.
Sentados a mesa para o almoço, ressacados da novena no sitio Olho d’água branco na noite anterior, Zeca, eu dona Nevinha e os demais integrantes da banda nova estamos a conversar sem muita pretensão sobre a noite anterior, tanto que não estava preparado para registrar em áudio nossa conversa, em meio a colheradas de seu almoço Zeca me contava relatos impressionantes sobre tio selo que já estava rondando a casa de Zeca desde que chegamos da novena a fim de pegar o dinheiro do apurado da esmola pro santo isso levou a Zeca me contar segredos que ele mesmo disse não ter contado ainda porque não queria magoar os outros da banda velha esses segredos que ele me contou foram segundo ele um fator decisivo para a dissipação da banda velha,o real conflito e dissipação da formação velha era a partilha do dinheiro e a ganância por parte dos membros,pois como relata Zeca os velhos até troféu que ganharam eles queriam vender pra ver se arrumava dinheiro,outro exemplo foi uma zabumba que ganharam e quiseram vender pra lucrar,Zeca falou também que seu Dé (zabumbeiro)ficou com raiva quando foi ensinar um ritmo a ele,Dé(zabumbeiro) alegou que sempre tocou na banda e ninguém não precisava ensinar,neste mesma época Zeca decidiu ir a São Paulo atrás de melhoras financeiras e com isso uma vereadora fez o convite pra Zeca ensinar a como tocar Pífanos e os demais instrumentos a crianças,no final Zeca topou em ensinar e abandonar a viagem,foi ai que começaram os atuais componentes,que segundo Zeca foram os que mais desenvolveram e que são mais fáceis de lidar,pois diferentemente da banda velha que cada componente tinha sua impostação no grupo,a banda nova foi criada para servir a Zeca,além do que os novos tem muita facilidade com as novidades,como Zeca falou “as vezes tem musica que eu quero pegar e eles já estão tocando”(pág. 13, Caderno de anotações de campo).
Tendo a entender que a banda de Pífanos Pio X se caracteriza como uma adaptação do ser humano e seus costumes á vida moderna e aos novos elementos trazidos pela cultura de massa,por isso acredito que adaptar e variar as velhas e tradicionais práticas são imprescindíveis a tudo que pretende permanecer em prática.observando que a inovação além de trazer benefícios válidos , nos levando a um universo ainda em construção e de difícil definição.Em se tratando de aspectos específicos da banda de Pífanos Pio X acredito eu que não é pelo fato de usar peles sintéticas ao invés de peles de animais que tornará a manifestação moderna,menos rica e plena de saberes importantes,nem tampouco um pífano de PVC que irá deixar a banda com uma qualidade inferior às que usam materiais como taquara e bambu,intensifico a observação remetendo ao contexto em que se fazem ativas as práticas,os locas não formais de apresentações não dizem nada nem tampouco as vestimentas usadas para trazer o ar de uniformes bem elaborados e de “status ocular” nesse caso devemos observar que Zeca no papel de mestre da banda de pífanos,ao lidar com estes novos elementos está aderindo as novidades do cotidiano e a entrada de valores extra-locais trazidos pela TV,e rádio,não estendo meus comentários a informações escritas como jornais e revistas pelo fato de serem menos dinâmicos ao contexto vivido pelo grupo. Assim como Thiado de Oliveira Pinto nos traz em se trabalho entitulado: Som e musica questões de uma antropologia sonora-pag 231.
...ou seja,a composição musical enquanto idéia, e não como realização no tempo,um tempo que também sempre será outro. Thiado de Oliveira Pinto - Som e musica questões de uma antropologia sonora-pag 231.
É necessário compreender que ao tocar uma musica advinda de um contexto moderno como (artista ou banda de musica popular de mídia) Zeca traz para o pífano a idéia da musica ou aquilo que remeta a ela,assim como Erivan Silva definiu como processo de pifanização em sua dissertação sobre os pífanos em outra região do estado. Da Paraíba. Desta forma é inevitável a adapção ao instrumento quanto a tonalidade,digitação e fraseado,como podemos ver em uma análise do instrumento usado em contexto não tradicional, e assim uma relação com o outro usado no âmbito tradicional.além desta “adaptação” para o pífano,também podemos fazer uma análise de várias versões da mesma musica,com o fim de observar que características são variáveis e as não variáreis.Podemos também fazer uma experiência com o mestre Zeca da seguinte maneira:lhe oferecer um pífano que seja de escala diferente do que está habituado e observar como as musicas serão executadas e também comfrontar os dados e observar que aspectos são mutáveis e os imutáveis.desta forma acredito estar realizando um procedimento analítico da percepção e concepção do fazer musical do mestre Zeca,este que lidera o grupo e compartilha de seus saberes musicais com os demais componentes da banda.
Sobre a resistência e mudança cultural sofridas e exercidas pelo grupo elabora-se um pequeno quia de compreensão.
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Resistencia cultural em mão dupla – diálogos entre o passado e o presente
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Os participantes da banda nova ,preferem as musicas novas do que as tocadas nas novenas;
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Os participantes da banda velha preferem as musicas velhas do que as musicas atuais tocadas na banda nova;
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Entre a particularidade dos saberes específicos e locais e a diversidade extra territorial;
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Machucados e peças características como particularidades do fazer antigo
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Baião,xote,xaxado,rasta pé como inovações de repertório e de prática;
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Processos de troca entre a sociedade;
(Informações dadas pela TV, e o chamariz para o mundo contemporânio das novidades e tecnologias, modernizações e globalização);
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Como a Banda devolve a sociedade e supre os anseios com novidades em seu fazer musical incluindo no repertório musicais que contemplem os ouvidos mais novos.
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Elementos de valor social. A mudanças de comportamento, valores e concepções da vida.
A novena do Olho d’agua Branco – Entre Procedimentos bem definidos e espaços para a libertação da escravatura indígena e liberdade de expressão.
A novena é uma das mais importantes atividades culturais de tradição católica que o povo do interior do Brasil, mais específico no Nordeste brasileiro vivencia. Consiste em rezas a santos e padroeiros onde hinos, benditos e outras formas de expressão musical são proferidas. No interior da Paraíba é bem comum encontrar nas casas santos, retratos e outros símbolos característicos do gosto religioso. Em Sumé, mais específico na região da zona rural dos Sítios: Olho D’agua Branco, Pio-X encontramos pelo caminho estátuas a beira da pista que simbolizam e marcam momentos históricos daquela população. Anualmente desde 100 anos atrás no mínimo se realiza no mês de Junho a maior Novena anual que é a de São João reunindo antigos moradores que se encontram vivendo fora de sua região em encontro com parentes moradores dos sítios e de outras cidades vizinhas afim de compartilhar aquele momento de rezas, conversas, reencontros e apreciação da fogueira que esquenta a fria noite de uma região como esta em questão.O semi-árido.
A novena é marcada de momentos bem definidos: horário da chegada das pessoas dos sítios vizinhos na hora marcada, no caso da banda de pífanos é servido um jantar para os componentes pois muitas vezes são bem mais carentes e por interesse que brinquem até o dia amanhecer os donos da novena servem como incentivo à brincadeira. Em seguida da chegada te todos é iniciado uma procissão pelos caminhos escuros da mata até a casa onde está guardado o santo que vai ser trazido até uma igrejinha comunitária ou mesmo a um local que comporte as rezadeiras. Durante todo esse trajeto são rezados benditos e todados as marchas de novena tradicionais que são entoadas nos pífanos de madeira acompanhados por toques marciais que dão aquela procissão um tom oficial, conhecido e reconhecido pelos mais velhos remetendo suas lembranças aos antepassados e pessoas queridas que estão longe. Um terceiro momento é dado quando termina a novena e todos se concentram em frente a algum bar ou quitanda local afim de beber e comer. Assim é dado largada a um momento mais livre onde os componentes podem tocar as músicas que querem onde dançam, e se expressam mais livremente. Para esse momento a música tocada tradicionalmente ano após ano é a dança da Tesoura onde os componentes imitam um balé de tesouras nas pernas, levantando poeira e chamando outros pra entrar na brincadeira através da umbigada.
Assim, a interação entre moradores e brincantes é geral, todos brincam, todos sorriem, todos interagem entoados pela música e pela motivação da brincadeira embalados por bebidas alcólicas ou não.
Porém no íntimo do grupo de pífanos é notório esta apreciação a aguardente fazendo com que faça parte da brincadeira, pois entre toques de pífanos e “bicadas” de pinga se acentua as lembranças e o prazer do fazer musical.
Mário de Andrade em seu livro “Introdução a estética musical” quando fala dos caracteres primitivos da arte que rondam a necessidade de expressão, necessidade de prazer e necessidade de comunicação:
O homem tem necessidade do prazer e entre estes dos prazeres superiores. Pág 24.
Transcrições da novena de 1984 a 2019. ACERVO EM FITAS 8MM
João do Pife
Zeca do Pifano
banda de Pífanos Pio X Sumé-PB